
Despertei-me com sua voz, que insistia em fazer meu sonho evaporar e viver a vida real.
Levantei-me preguiçosamente, Ele também se espreguiçava esticando todo o corpo e olhando-me fixamente. Sabia o que Ele esperava de mim. E como sempre, acaricei sua cabeça, seu corpo, falei algunas poucas palavras, alimentei-o e abri as portas de casa para seu passeio matinal.
Ele não tinha uma hora exata para voltar, às vezes passava o dia inteiro na rua, podia chegar de madrugada, ou até mesmo demorar algunos dias, mas sempre voltava.
Às vezes voltava inteiro, às vezes machucado, mas sempre voltava.
Até que nesse dia não voltou. Tentei me acalmar e pensar que ele apareceria a qualquer instante. Os dias passaram e nada. Não perdi a esperança e continuei acreditando que quando menos eu esperasse, Ele haveria retornado.
Andava pelas ruas tentando encontrar seu rastro, via seu rosto em outros rostos, e tentava me consolar, pois ainda tinha a companhia do Outro.
Mas cada um é um, e Ele não é igual ao Outro. Sentia falta de coisas que só Ele fazia, a nossa relação era única.
Amava intensamente Ele e o Outro, e só quando o Outro morreu foi que eu realmente perdi a esperança, mas a dor da desaparição é uma dor muito extranha. Por um lado a aflição de pensar em tudo de mal que pode ter acontencido, entretanto há também o lado, de sempre pensar que Ele seguia bem e vivo.
Havia passado tempo demais e tive que assimilar que Ele simplesmente desapareceu.
Saudades...
A vida é um constante jogo de ganhar e perder. Ganhar ou perder um trabalho, uma aposta, ou a concorrência. Ganhar ou perder um bichinho de estimação, filho, irmão, amigo, namorada, neta...
Ganhar, geralmente, é a parte supostamente fácil, boa, mas perder…
Perdemos porque desistimos, separamos...
Perdemos por morte ou desaparição.
Sumir, escafeder-se, ocultar-se, extinguirse…desaparecer!!!
Deixando aquela incognita no ar, aquela contradição de sentimentos, a sensação de ter que tocar a vida adiante e não conseguir, pensar que tudo está perdido e pensar que ainda há solução.
Desaparecer gera o sentimento horroroso da dúvida que não consegue ser sanada.
Por isso hoje, pensando no meu gatinho que desapareceu e como já pude reagir, mas pensando principalmente nas famílias dos passageiros do acidente do voo da Air France, pensando na família Amieiro com a desaparição da engenheira
Patricia Franco, vendo o sofrimento dos pais de
Marta Del Castillo e de todos os outros pais que tiveram seus filhos desaparecidos, e muitos outros casos distintos. Pensando na dor daquele que sofre a desapariçao de um ente querido, me solidarizo com essa dor e invoco justiça, eficiência na resolução dos casos, compaixão e respeito pelos que sofrem essa dor, essa dúvida.
Acessem:http://www.cadepatricia.com.br/http://www.disquedenuncia.org.br/