lunes, 2 de febrero de 2009

Pra lá de Marrakech - parte III


O sol brilhou.
Brilhou intesamente como estava previsto pela meteorologia no primero dia do ano. 2009 será um ano regido pelo grande astro de luz e com seus raios acordei. Sentia que algo havia mudado. Não apenas o número do ano, mas o fato era que dia chuvoso de 31 de dezembro já era história e eu me sentia diferente.
E no primeiro dia do ano me propus a ser feliz.
Com as energias renovadas por uma noite bem vivida, dormida, sonhada e bem amanhecida sai a caminar pelas ruas de Marrakech.
A cidade terracota era puro calor e buscamos um lugar para nosso café da manhã.
Entramos num café estilo parisiense, há muitos desses pela cidade, e me sentindo mais na Europa que na África tomei meu café com croissant.
Satisfeita sai em busca do autêntico marrocos, e não há nada mais autêntico nessa cidade que a praça Jema el Fnaa . A sensação de novamente em seus solos pisar foi diferente. Já não me assustaba aquele caos, e comocei a achar tudo fascinante. Claro, que essa sensação com seus devidos limites, já que não eramos livres para fazer foto ou filmar sem ser bombardeado por árabes querendo uma moeda.

Uma mulher toda coberta se aproximou, pegou minha mão e disse:
-¿Hablas español?
-Sí, por supuesto. Contestei mirando para única parte exposta de sua face, seus olhos negros.
Foi bom escutar novamente aquele idioma em boca alheia, mas quando me dou conta ela já estava com uma seringa fazendo um desenho rebuscado em minha mão.
-No, muchas gracias.
-No problema.
E segue segurando ainda mais forte minha mão e esparramando henna pelos meus dedos.
- No tengo dinero.
E ela sem me escutar pergunta meu nome e diz que está escrevendo em árabe para me trazer sorte, assim como também está escrevendo a palavra filho. Nisso chega Matheus e ela, finalizando rapidamente minha mão, pega em seu braço com a seringa a todo gatilho.
Matheus reforça:
-Somos pobres estudiantes, no tenemos dinero.
- No problema.
E pergunta pelo nome dele, repete a operação de escrever o nome para trazer sorte ao lado da palabra filho.
Digo a Matheus que de dois euros a ela. Ela olha aquelas moedas com desdém, ri e diz:
- Eso es muy buen trabajo, trabajo para traer suerte. Son 200 Dirham (cerca de 20 euros)
Replicamos prontamente:
-No hemos pedido por su trabajo.
-Vale, hago descuento. Son 150 Dirham.
Não queríamos discutir, afinal o dia não estava para isso, demos os 2 euros e viramos as costas.
Depois tivemos muito mais cuidado com qualquer pessoa que se aproximasse, as fotos e o video foram feitos a distância com muito zoom.
Saímos da praça e entramos em um ruazinha que da praça nascia, entrávamos em uma e depois em outra até nos perdermos e voltarmos a nos encontrar. Olhávamos tudo, mas poucas vezes perguntávamos o preço de algo. Pois só vale a pena se você realmente tiver a intenção de pichinchar para conseguir o melhor desconto e comprar. E a impressão, depois da compra efetuada é que sempre se poderia conseguir um preço ainda melhor. É a cultura deles, para comprar qualquer coisa é assim…mas cansa.
E o dia nao estava para desperdigar energia com qualquer coisa que pudesse nos aborrecer.
Não compramos quase nada, estávamos ali para curtir a atmosfera do lugar, e isso fizemos.
Num beco sem saída umas crianças jogavam futebol com uma bolsa plástica, Matheus entrou no jogo e triblou a garotada, eles sorriram ao ver o estilo do brasileiro jogando.
Quando demos conta o dia já estava acabando, foi uma sensação muito boa deixar o sol nos guiar.
Voltamos ao hotel tomamos um banho e esperamos pelos tios de Matheus que estavam vindo de Portugal.
Eles chegaram através de um vôo de Casablanca e nos ligaram avisando que uma mala não havia chegado.
Foram então fazer a ocorrência e descobriram que haviam uma mala com o nome de Paulo Costa, mas que a mala na verdade não era a dele. A que se extraviou tinha uns 20 kilos e essa não pensava nem 10kg. Deixando a mala de outro ser para trás saíram do aeropuerto muitas horas depois de aterrizarem lamentando o ocorrido.

Fomos comer em um dos melhores restaurantes de Marrakech, em uma terraça envidraçada onde se podia apreciar toda a praça, mas nem a bela vista, nem a boa comida do local, nem as garrafas de vinho esvaziadas foram suficientes para mudar o rumo da prosa, e o assunto mala foi protagonista do jantar.
Despedidas feitas, cada um para o seu hotel e a missão do próximo dia seria recuperar a mala.
Eu já imaginava que não seria uma missão agradável e desejei que aquele dia ensolarado não tivesse passado tão rapido.

...continua...

2 comentarios:

Marcos Santos dijo...

Malas...são sempre "malas". Aliás, a "flanelinha" da hena também foi uma mala.

Raquel dijo...

É verdade, Marcos. Nessa viagem descobri como uma mala ausente pode pesar tanto.