miércoles, 17 de marzo de 2010

De onde você é?



Pelos caminhos que ando,
um dia vai ser.
Só não sei quando.
Leminski





Tem uma pergunta bem simples que acho super chata de responder, na verdade há anos que já tenho esse desprazer de contestar a dita cuja, mas de um tempo para cá, vem sendo pior.
A tal perguntinha é a seguinte: De onde você é?
O que essa indagação realmente quer dizer? Onde eu nasci? Onde eu vivi? Onde eu vivi em qual fase da minha vida? Ou quer dizer: De onde eu me sinto? Ou, da onde é o meu sotaque? Qual é meu país ou qual é a minha cidade?
Sei que uma pergunta simples assim, ingênua até eu diria, não deveria me fazer titubear tanto para responder. Mas vejam bem meu histórico:
Meus pais se conheceram em Lorena, interior de São Paulo, tiveram 3 filhos, um em cada cidade. Eu nasci em São José dos Campos, mas deixei a cidade com 2 anos de idade e depois poucas vezes voltei. Sei que é uma cidade muito bacana, porém não a conheço, não tenho memória desse lugar, então realmente não me sinto “Joseense”.
Depois meus pais foram morar em Araras, também interior de São Paulo, e lá vivi 15 anos, ou seja, minha infância e o inicio da minha adolescência são ararenses. Hoje são poucas as oportunidades que tenho de visitar essa cidade, mas a guardo com todo amor em meu coração, não só pelas muitas histórias que vivi neste lugar, mas principalmente pelas pessoas que conheci. Desde minha amada afilhada e sua família, a amigos que estudei junto durante 10 anos, ou vizinhos que se tornaram amigos para toda a vida. Tenho o privilégio de manter uma amizade sólida e bela com várias pessoas dessa época. Amizades que tem 20, 25 anos e certamente terá 30, 40 se seguirmos cultivando esse carinho, e a Internet facilita muito esse contato.
Entretanto, durante esse período estudei 3 anos em Pirassununga, e na cidade da cachaça 51, tomei meu primeiro porre, de pinga claro! Fui atriz, fui professora primária e fiz excelentes amizades que também cultivo até hoje e fui muito, mais muito feliz. Foram 3 anos tão intensos de descobertas e aprendizados que certamente muito do que sou hoje está relacionado com esse período.
Até ai, vocês poderiam me dizer: você é de São Paulo. Só que eu não sou da capital, então já tenho que especificar, sou do interior de São Paulo, mas as pessoas não se contentam com essa resposta e sempre perguntam: Interior! Percebi pelo seu sotaque. De onde?

Depois meus pais foram a Curitiba. Eu achei o máximo mudar de cidade e de Estado!
Foi fantástico, me profissionalizei como atriz, me formei como Relações Públicas, vivi minha experiência amorosa mais intensa e literalmente maluca. E depois de 8 anos vivendo na cidade, como não sentir um pouco Curitibana? Como não gostar de usar casacos e botas e pertencer um pouco a cidade de Leminsky e Dalton Trevisan.

Eu terminei a faculdade e queria cair no mundo e meu pai se aposentou e queria sossego. Fui para Grã Bretanha, morei na capital do País de Gales, Cardiff e na Inglaterra vivi 5 meses em Londres. Está certo, não é meu idioma, nem meu país, mas assimilei algumas coisas daquela cultura que não quero abrir mão jamais. Só para citar uma delas o costume diário de dizer palavras gentis como: thank you, sorry and excuse.

Voltei ao Brasil e vivi um ano com meus pais, que haviam se mudado para Itajaí, em Santa Catarina, novamente uma outra cidade e um outro estado. Na verdade tinha a casa de meus pais como referência pois durante esse ano passei um tempo em João Pessoa e trabalhei uns meses na praia do Rosa, uma praia paradisíaca de SC. Porém meus planos eram claros e fui a Barcelona por 7 anos para fazer mestrado e doutorado. Sempre voltava a casa uma vez por ano, e sentia que aquela casa, naquela cidade era também meu lar. Santa Catarina é bela e perfeita para momentos em família.

Sobre Barcelona, não preciso nem dizer como me identifico com vários aspectos da cultura catalana e como amo aquela cidade. Mesmo assim, vivendo nela algumas vezes pensei e senti como Fernando Pessoa, que minha pátria era minha língua, a língua portuguesa. Hoje essa máxima me parece limitada.

Agora estou na Bahia, e me sinto muito bem aqui. Porém há momentos que me sinto mais estrangeira do que quando vivia em Barcelona, meu sotaque me denuncia. É eu abrir a boca que mais rápido que eu imagine alguém lança a fatídica pergunta.
Você é da onde?
Já dei tantas respostas diferentes. Tento pensar rápido, as vezes resumidamente conto sobre os lugares que passei, outras vezes simplesmente digo São Paulo, sentindo o coração dentro do peito bater diferente querendo dizer: “e os outros lugares que também estão aqui?”

Pensei numa resposta que me satisfaça, mas que certamente não cessarão novos questionamentos.
Por hora digo: sou Baiana.
E a pessoa reage: Baiana?
Sim, porque eu sou da onde eu estou, e me sinta bem!
E mais rápido do que alguém possa argumentar, faço eu a pergunta:
Algum problema com isso?


Besitossss e axé
Quel

23 comentarios:

Dani Dani Ber dijo...

oie querida, só agora vi seu blog e posso te dizer q tb sou assim, nomade em portugal com alma em curitiba q tb já morou em sp, sjc, japão, gpuava, rio claro, campinas... af, nem sei
bjim

Paulo-Roberto Andel dijo...

somos todos dum mundo. del mondo.

se todos aceitassem isso bem, para que guerra, tráfico, violência, não?

pena que o ser humano seja limitado demais para isso num todo, embora os casos particulares da espécie sejam de muito brilhantismo.

beijoca.

Raquel dijo...

Oi Dani,

Que bom que descobriu meu blog, espero que apareça sempre.

Essa também é uma boa resposta:
Nomade!

Besitossss

Raquel dijo...

Oi Paulinho,

Realmente deveriamos ser todos do mundo e aceitar isso com naturalidade, mas ñ é assim, por diversos motivos.
Conheço gente que por opção, quer nascer, crescer e morrer no mesmo lugar. E qdo sai da "sua cidade" não consegue aproveitar o que outros lugares tem a oferecer e quer logo voltar ao referencial conhecido e seguro.
Também tem gente que corre o mundo, mas se sente claramente de um determinado lugar. Isso tbém é bacana. Só sei que não sou assim...srsrssr

Besitossss

Mariano P. Sousa dijo...

Menina!
Eu achei magnífica tua história... é tão gratificante conhecer povos e cultura diferentes e agregar um pouco de cada uma dessas culturas.
mesmo que a saudade doa as vezes no peito.
O importante é viver não importanto de onde se é...
beijão no caoração Quel!

Lau Milesi dijo...

Quel, quer dizer que você está aqui pertinho de mim? Vem me ver, menina.[rs]

Concordo inteiramente com o Paulinho. Somos do mundo.Eu tenho alma de cigana. Shi...essa palavra cigana já deu o que falar.[rsrs]
Quel, eu tenho essa frase do Lemisnki no meu blog. Fica na coluna ao lado.Adoro esse poeta. Pra mim ele ainda vive.
Obrigada pelo carinho deixado no comentário de ontem. A recíproca é verdadeira.
Um chero... axé qualquer dia.[rs]

Unknown dijo...

Conta uma história que Einstein ao visitar a América do Norte, foi compelido a preencher um questionário; nele estava escrito, dentre vários quesitos, um tópico para a raça com um espaço em branco, para preenchimento.
Ele não teve dúvida: HUMANO.
E sorrindo entregou a ficha ao policial da imigração.
E é isso. Somos todos humanos, com ares e vaidades de pertencer aqui ou acolá. Mas você que já é uma cidadã do mundo, poderia preencher a ficha com a mesma resposta. É isso. Besitos.

Mariana dijo...

Raquel vim te visitar através do blog do Mariano.
Gostei de conhecer um pouquinho de ti.
Estou te seguindo.

Ricardo e Regina Calmon dijo...

Voce é bahianinha nossa do mundo,voce é a estrela que nos guia e perfuma,esteja donde estiveres amadériima Quelllllllllll!

huhuuu Díos ...como te amoooooooooo!

bzu bzu meus e de Victória Regina!

huhu viva la vidaaaaaaaaa

Priscila Rôde dijo...

Adorei!
Que caminhada mais linda a sua!
Estar morando no Centro da Cidade?

Muito sucesso pra você,
que o mundo lhe receba sempre bem.


Um beijo.

Candice Deliuxe dijo...

tem que dizer: "eu estou baiana"!

o "ser" e' muito dentro pra ser de algum lugar ne?! bjossss

Ana Guimarães dijo...

"Sou, como Joyce, uma cidadã do mundo!" Fosse eu, com essa história de vida (linda, por sinal!), responderia assim.
Beijos

Raquel dijo...

Oi Mariano, é isso mesmo apesar da saudades doer no peito, também acho magnífico essa minha história de tantos lugares, tantas pessoas e tantas distintas experiências e vivencias.

Um beijo no seu coração!

Raquel dijo...

Oi Lau,

Pertinho pertinho ñ estou...hehehe, mas se pensar que um oceano ñ separa mais gente, eu realmente estou perto. Então qualquer hora eu vou te visitar sim!
Amo Leminski, que legal que vc tem essa frase no seu blog, tem tudo a ver comigo.

Beijo, cheiro e axé!

Raquel dijo...

Djabal,
Adorei saber dessa história, eu e Einstein parecidos em alguma coisa...hehehe ambos poderiamos dar a mesma resposta. Humanos!
e do MUNDO!

Besitossss

Raquel dijo...

Oi Mariana, obrigada pela visita. Seja bem-vinda!
Bjosss

Raquel dijo...

Oi Amado Ricardo e Regina. Mto obrigada por tão doces palavras!!!!

Beijos no coração!!!!

Raquel dijo...

Oi Can

Que bom te ver aqui!!!
Pois é: estou bahiana...hehehe, proque realmente o meu ser cabe mais muito mais que umsó lugar.

Bjossss

Raquel dijo...

Oi Pri,

Estou morando no Jd apipema, e vc?
Pois o mundo é como as pessoas, as vezes nos recebe bem outras nem tanto.Mas a gente tem o poder de mudar essa energia. Ou buscar outras pessoas ou lugares que nos façam sentir bem.

Beijosssssss e obrigada pelo carinho.

Raquel dijo...

Pois é Ana, todas as respostas levam para a mesma resposta: sou do mundo! da vida, do lugar onde estive, do lugar onde estou, e quem sabe também do lugar onde irei.

Besitossss

Tico dijo...

Colar de letras


E para quem as nuvens veste
os pássaros cantam e a terra cheira
a manhã de todos os tempos
o dia beija

No mar salgado desse colo
esse colar de letras
que tão pouco enfeita
foi feito pra brincar

Moderno ou tradicional
os nós inquietos de lugares e pessoas
ligados, combinados por sonhos escolhidos
são eles que trazem as cores e o brilho

mas a forma quem dá são as dúvidas
e irrefutável é o desejo de oferecer
o que não se sabe
o que se tem a dar.

Mônica Paz dijo...

Agoooora eu entendi o ignore rsrsrsr
É uma boa história e mt legal o blog

Raquel dijo...

Obrigada Mônica!
Beijos